O crescimento econômico fez nascer
uma consumidora exigente e capaz
de expandir um mercado até então tímido
uma consumidora exigente e capaz
de expandir um mercado até então tímido
Thereza Venturoli
A paulistana Patricia de Amorim Rocha, a moça da foto na página ao lado, está com 36 anos, é casada e mãe de uma menina de 10 anos. Filha de imigrantes nordestinos, tem o ensino médio completo, mas já trabalhava informalmente desde os 11 anos de idade para complementar a parca renda familiar conseguida pela mãe, diarista, e pelo pai, operário da construção civil. Foi operária e funcionária do setor administrativo numa fábrica de brinquedos. Fez um curso de empreendedorismo e foi contratada por uma indústria de panelas. Desistiu do emprego de carteira assinada para montar uma sorveteria – que também se mostrou pouco rentável. Há cinco anos, enfim, desistiu de tudo para se dedicar à venda direta de cosméticos – atividade que lhe rende seis vezes mais que os empregos que já teve com carteira assinada.
Consultora de beleza, Patricia é
responsável por 60% do dinheiro do lar. Ancorada no sucesso dela, a família
trocou o fogão, comprou um computador com acesso à internet e estacionou
na garagem um carro zero-quilômetro, comprado em 2008, em 24 prestações.
"Prazo bem curtinho mesmo, que é para a gente não se meter
em dívidas que não acabam mais", diz Patricia. O próximo
passo é trocar o televisor e terminar de pagar as prestações
da casa própria em Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo. "Lá
teremos uma suíte para o casal", afirma Patricia. A filha, Jenifer,
estuda em escola pública. A razão é, de novo, cuidado com
os gastos: "A escola municipal é boa. Então deixamos para pagar
uma escola particular quando ela avançar mais nos estudos". De planejamento
em planejamento, Patricia tem certeza de que vai conseguir mais: cursar uma faculdade
de economia, viajar nas férias e, um dia, quem sabe, fazer uma cirurgia
plástica no abdômen.
Patricia, sorridente
e despachada, vivíssima, poderia ser traduzida em números. Ela é
uma legítima representante da nova mulher da nova classe média
brasileira.
Entre 2003 e 2008, cerca de 27 milhões de brasileiros das classes D e
E
subiram de patamar social e hoje compõem os 91 milhões de cidadãos
da classe C. São filhos do crescimento econômico, da expansão
de empregos e do fim da inflação, fenômenos recentíssimos
no Brasil. As mulheres, indutoras de consumo, têm papel fundamental
nesta
sociedade que se expande. Segundo o instituto Data Popular, elas são
36 milhões, que, até o fim deste ano, terão movimentado 158 bilhões de
reais, o equivalente a 30% da renda de todas as brasileiras.
"Aberta às novidades tecnológicas, atenta à importância
da educação e consciente de seu poder aquisitivo, essa mulher, que
tem pela primeira vez algum dinheiro para gastar com itens não
essenciais,
preocupa-se em crescer profissionalmente, aumentar a renda e, assim,
poder comprar
mais, com cautela", diz Fábio Mariano, sociólogo especializado
em comportamento do consumidor, da Escola Superior de Propaganda e
Marketing (ESPM),
em São Paulo. "Com isso, está desenvolvendo um imenso mercado
de consumo que segue regras próprias." As mulheres da classe C,
ainda
segundo o Data Popular, são também as que mais levam dinheiro
para casa: contribuem, em média, com 41 reais a cada 100 reais
da renda familiar. Na classe A, a participação feminina é
de 25 reais a cada 100. Isso significa que nas funções que exigem
menos preparo as mulheres ganham mais do que os homens – ao
contrário
do que ocorre nas camadas mais altas da pirâmide. Coerentemente, 30%
das
famílias de classe média são chefiadas por mulheres. Na classe
A essa proporção é de 22%.
Com todo esse
poder na bolsa, as emergentes representam mais de 50% dos clientes das farmácias,
dos supermercados e das lojas de roupas. Para cada dez homens de classe média
que fazem compras nos shoppings, há doze mulheres. Elas avançam,
também, em tradicionais nichos de consumo masculino, como seguradoras e
bancos: 62% das mulheres têm cartão de crédito, contra 59%
dos homens da mesma classe social. Há quem aposte que, em dez anos, elas
serão maioria absoluta entre os clientes nos estandes de vendas de apartamentos
e nas concessionárias de automóveis. Alguma dúvida? O futuro
parece uma longa estrada quando se acompanha com atenção uma outra
estatística: dos 7,5 milhões de mulheres da classe C com idade entre
16 e 24 anos, 73% já ingressaram no mercado de trabalho. Outros 25%
estão na faculdade ou de posse do canudo. Os filhos são importantes,
mas a razão da existência vai além da prole: 36% das jovens
ouvidas pela pesquisa citam como maior sonho a realização profissional.
As cifras parecem refletir Patricia.
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